sábado, 26 de maio de 2012

Nematoide de cistos da soja - Heterodera glycines


Embora os nematoides do gênero Heterodera tenham distribuição mundial, no Brasil o mais conhecido é o Heterodera glycines, nematoide formador de cistos em soja. Conhecido como nematoide dos cistos da soja (NCS), a doença também pode ser chamada de "nanismo amarelo", devido aos sintomas por ela produzidos. Detectado no Brasil, pela primeira vez, na safra 1991/92, atualmente, estima-se que a área com o nematoide seja superior a 2,0 milhões de ha.

É um nematoide endoparasita sedentário, que pode causar sérias perdas na produção de soja, até mesmo sua perda total. No Brasil, a primeira ocorrência desta espécie, foi detectada em Mato Grosso, causando redução progressiva na produtividade de 3.300 kg/ha para 1.600 kg/ha. 

Ciclo de vida e modo de parasitismo

 O ciclo de vida varia de 21-24 dias. O desenvolvimento inclui 4 ecdises e o juvenil J2 é a fase infectante.  Este juvenil eclode e sai do cisto, colocando-se em posição paralela ao eixo principal da raiz, com a região anterior próxima ao cilindro central. As larvas das fêmeas gradativamente adquirem o formato de limão, rompendo o córtex radicular, emergindo à superfície, permanecendo apenas a região anterior embutida nos tecidos, com o restante do corpo à mostra, fora da raiz. 

Os machos, após atingirem o estagio adulto, abandonam as raízes. As fêmeas fertilizadas produzem e armazenam os ovos no interior de seu corpo e, após a sua morte, sua cutícula altera-se quimicamente, adquirindo coloração marrom e transformando-se em uma estrutura protetora rígida, o cisto, com mais ou menos 500 ovos, que podem permanecer viáveis por até 7 anos, mesmo sem a presença de um hospedeiro.

Após a fecundação, os ovos maturam dentro do corpo da fêmea, geralmente entre 200 e 500 ovos por indivíduo, após o que a fêmea degenera, deixando a cutícula e, em alguns casos, uma exsudação gelatinosa como proteção para os ovos. Pode também ser coberta pela "camada sub-cristalina", possivelmente produzida por um fungo simbionte.

Quando as partes infectadas da planta se degeneram os cistos são liberados no solo. Dentro deles se desenvolvem os juvenis de segundo estágio, os quais então escapam para o solo, onde podem viver por alguns meses, até um ano, sem se alimentar, penetrando num novo hospedeiro quando o encontram. Na ausência de condições favoráveis os cistos secos podem viver por até sete anos, apesar de o número de ovos viáveis neles diminuir.

Sintomatologia

O primeiro sintoma óbvio de infestação de nematoide de cisto da soja nos campos pode ser a presença de plantas bem menos vigorosas, amareladas e raquíticas. Adicionalmente, as fileiras de soja em lavouras infestadas freqüentemente demoram a fechar as entrelinhas. As plantas que crescem em solos altamente infestados podem permanecer raquíticas durante toda a estação de crescimento. Entretanto, as plantas amareladas e raquíticas que aparecem em anos secos freqüentemente exibirão um ressurgimento dramático do crescimento depois da volta das chuvas.

O amarelecimento das lavouras de soja devido aos danos do NCS é confundido freqüentemente com a clorose por deficiência de ferro, particularmente nas áreas com elevados pH no solos, onde a deficiência do ferro é um problema. Entretanto, há umas diferenças entre os sintomas dos dois problemas. Os sintomas da clorose por deficiência do ferro aparecerão cedo na estação de crescimento, antes do florescimento da soja. O amarelecimento devido aos danos do NCS ocorrerá mais tarde, na época da floração, ou após. Entretanto, o amarelecimento por deficiência de ferro e pela infestação com nematoide de cisto da soja pode ocorrer na mesma lavoura com sintomas de ambos ocorrendo na mesma planta.

A maioria dos sintomas do ferimento do nematoide de cisto da soja no sistema radicular também não é original. As raízes infectadas com o nematoide são raquíticas. O nematoide de cisto da soja diminui também o número de nódulos de fixação do nitrogênio nas raízes, e a infecção das raízes pelo nematoide de cisto da soja pode fazer as raízes mais suscetíveis à infecção por outros patógenos do solo.

Figura: Ciclo de vida de Heterodera glycines. Fonte: AGRIOS (2005)

O único sinal original da infecção por nematoide de cisto da soja é a presença de cistos e de fêmeas adultas nas raízes de soja. As fêmeas e os cistos aparecem como minúsculos objetos dados em forma de limão que são brancos inicialmente, mas variam em torno do amarelo, chegando a bronzeados quando maduros.

Hospedeiros

Dentre os hospedeiros, figuram 149 espécies, destacando-se a soja (Glycine max), o feijão (Phaseolus vulgaris), a ervilha (Pisum sativum) e o tremoço (Lupinus albus). A maioria das espécies cultivadas, tais como milho, sorgo, arroz, algodão, girassol, cana-de-açúcar, trigo, assim como as demais gramíneas, são resistentes. O NCS não se reproduz nas plantas daninhas mais comuns nas lavouras de soja, no Brasil, mas já foi relatado em uma ampla gama de plantas invasoras em estudos realizados na Europa e EUA.

Para maiores informações, consulte:

Agrios, G.N. (2005). Plant diseases caused by nematodes. In: Agrios, G. N. Plant pathology.

Ferraz, C.C.B., Monteiro, A.R. Nematoides. In: Bergamin Filho, A. Kimati, H., Amorin, L. (2008) Manual de fitopatologia: princípios e conceitos. Ed. Agronomia Ceres.

Luc, M., Sikora, R. A. e Bridge, J. (2005) Plant parasitic nematodes in subtropical and tropical agriculture. 2 ed. Biddles Ltd/CABI Publishing, Cambridge, 871 p.

Tihohod, D. (2000). Nematologia agrícola aplicada. 2 ed. Funep, Jaboticabal, 473 p.

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